G.Fábio Madureira
A picada da serpente
com seu veneno se cura.
O desarranjo da gente
com soro se atura.
Cansei de ouvir o coro
de vozes que, de algum tempo,
cantam o encanto desse soro
que põe na vida um alento.
Num copo d’água bem pura,
uma pitada de sal,
sete que vêm da doçura
do nosso canavial.
Cura-se com esse remédio
o que chamam diarréia,
desânimo, e até tédio,
prevenindo a dispnéia.
Só não sabem essas vozes
que esse soro em nós temos,
bem guardado em nossos nós
que nesta vida tecemos
com a doçura reprimida
numa tal super-potência
e a vida dividida
pelo sal desta ciência
que o desejo reprime
e o doce faz guardar
em poesia que não rime
o desejo com o amar,
produzindo água pesada
a que chamamos de mágoa
pela fricção gerada
que das relações deságua.
Dizem ser remédio santo
mas de santo não tem nada.
Cura a fraqueza em pranto:
é da inveja a picada.