G. Fábio Madureira
O princípio do prazer
desta nossa sociedade
temos logo que rever
pra restaurar a verdade.
O que chamam de prazer
é alívio, na verdade:
de algo a se desfazer
sendo negatividade.
Prazer real é processo:
é fruir o acontecer
atingindo-se sucesso
sem no produto se ater.
O produto é conseqüência
do processo a se fruir
gerando paz à vivência,
alicerçando o porvir.
Se alívio gera paz
é na não-paz que se dá
e a que gera não é capaz
de provocar bem estar.
É paz mais que passageira
que não passa de descarga
da energia sorrateira
que a mucosa só amarga:
é a energia mortal
que se herda, que se pega
e sem combate frontal
é a vida que se nega.
O prazer vem do desejo,
alívio, da compulsão.
No alívio nunca vejo
o pulsar do coração.
Desejo é da natureza.
O alívio, da história.
O desejo é só leveza.
O alívio, só escória.
Se é o alívio que domina,
nunca se chega ao gozo,
que só do prazer germina,
trazendo à vida repouso.
Quem não goza é incapaz
de ser parceiro no amor:
orações cheias de mas
e o período, de mau humor.
Até agora procurei
uma rima para alívio.
Nesta parte em que cheguei
vi que a rima é o vício
Por isso pecado é pecado,
pois agride a natureza
que nos chama ao legado
do prazer e da pureza.
E virtude?! Não é esforço,
muito antes ao contrário.
E é por isso que eu torço
pro meu ser ser só sacrário.