1) Como especialista na área de educação, como vc define o ensino brasileiro?
Iniciei toda essa minha busca pelas angústias que me causavam meu papel de professor do ensino médio, principalmente para os alunos dos cursos noturnos, a quem denominei de alunos trabalhadores. Cheguei a concordar com uma visão pedagógica que coloca na forma de se ensinar as causas de nossos fracassos escolares. Depois passei a apontar essas causas nos conteúdos de nosso ensino.
Hoje tenho a convicção de que a questão principal está no nosso paradigma de conhecimento. O atual paradigma que sustenta o nosso ensino tem que mudar, tanto na forma quanto no conteúdo. Ele está distante da vida do dia-a-dia de nossa população. Daí a desmotivação e até mesmo uma resistência, seja pelo absenteísmo, seja pela violência. Ele tem-se mostrado eficiente para formar tecnocratas, mas péssimo na formação de seres humanos.
9) Como criar filhos num seio familiar desestruturado e em meio à violência do mundo atual?
Para mim, a violência atual resulta da confusão que temos feito entre prazer e alívio.
Na medida em que temos tomado alívio por prazer, já não mais sabemos distinguir virtude de vício. A virtude é algo que tem a ver com força, com o exercício de nossa potência. Portanto, ela interage com o mundo do prazer. Já o alívio está diretamente ligado com o mundo do vício. É algo que fazemos por compulsão, por fraqueza. Se passamos a confundir esses dois mundos, por termos desaprendido a lidar com o caráter ambivalente da energia material humana, a questão de valores se torna algo totalmente abstrato e pejorativamente relativo. Tudo pode. É só uma questão de argumento.
Da mesma forma, a recuperação da harmonia familiar passa pela reintrodução, em nossa visão de mundo, dessa noção de energia material humana. A família é a principal unidade de produção/reprodução dessa energia. Se nela já não mais se sabe distinguir a energia positiva da negativa, também já não se sabe distinguir virtude de vício. E, portanto, ela termina sendo o primeiro elo nesse progressivo processo de geração de violência.
Lamentavelmente, na família esse processo é mais perverso porque é inconsciente. O infanticídio moderno é amplo e patente. Nossas crianças estão sendo massacradas. Afinal essa energia é emitida, captada e processada como qualquer outra. E, infelizmente, o que tem predominado no seio de nossas famílias é a produção/reprodução da energia material humana negativa ou mortal. Cada vez menos as famílias são um espaço de aconchego e de amor. Precisamos urgentemente superar esta situação de caos. E isso passa pela mudança de nossa visão de mundo, pela construção de um novo paradigma de conhecimento. Por isso é que tenho afirmado a importância da sabedoria popular. Nela acredito estarem as bases e os sinais para a construção desse novo paradigma e, portanto, de um novo ser humano, de uma nova sociedade.