G.Fábio Madureira
Já nem sei mais o que digo
a respeito do umbigo.
Ele é o órgão central
de um ser anatural.
Deus mandou pra toda gente
a viver sempre pra frente.
Mas o umbigo mal cortado
só nos liga com o passado.
É o coração dos mortos
que vive batendo em nós
tornando os caminhos tortos
e em nós só dando nós.
Se no nosso corpo pulsa,
nosso espírito expulsa,
nossa alma se definha
e é outra que se aninha.
Se aninha e toma conta
por completo o nosso ser,
nossa alma fica tonta
não sabendo o que fazer.
Provoca sinestesia
de nossos órgãos vitais
e nossa alma que já via
fica só chorando os ais.
Liga a língua no anal
e bloqueia o genital.
Da saída faz entrada
e da vida um quase nada.
O calcanhar já não pisa,
vive soltinho no ar.
Tem-se medo até da brisa
pra só o além respirar.
É uma antena parabólica
que nos desvia de Deus,
faz a vida diabólica
de qualquer um com os seus.
A realidade ofusca,
faz do amor só fantasia
pois a morte é que busca
ao sofrer o dia-a-dia.
E quem tem o umbigo assim
nunca sente o que faz
pois se liga só no fim
atrelado ao pra trás
Nunca vive o presente,
muito menos o amor,
já que da vida é ausente,
sua presença é só dor.
Mas na dor não vê sentido,
é que sua alma tá cega,
e não decifra o emitido
do espírito que a pega.
No normal se refugia
e agride a natureza
criando desarmonia
num inviver de certezas.
Apesar dessa visão,
o seu corpo grita e clama
ao esquecido coração
que emita alguma chama.
E o umbigo entra em cólica
respondendo ao coração
que não quer uma parabólica
provocando confusão.
E se a mente for aberta
aos sinais do corpo em alerta,
a antena ela desliga
e ao divino se religa.
E o corpo verte água
por onde tiver saída
se livrando dessa má-goa
que nos liga com outra vida,
enfrentando os pecados,
do pequeno ao capital,
mas sobretudo ligado
no pecado original
que faz do umbigo antena
pra nos deixar impedidos
de ter uma vida serena
curtindo nossos sentidos
e entendendo os sinais
da natureza em nós
libertando-nos dos pais
como também dos avós.