Manifesto EGOlógico
Se por opção/ilusão ou ignorância, tenho sido capaz de agredir a minha própria natureza, por que respeitar uma árvore, um animal, um rio ou até mesmo o próprio semelhante?
(Em defesa de um Neo-holismo e de um Neo-ecologismo)
Os movimentos holístico e ecológico, que prosperaram nas últimas décadas, foram essenciais para a resistência a uma visão de mundo puramente mecanicista e imediatista, que tem impedido o avanço do processo de humanização.
Efetivamente, a visão holística contribuiu para o homem recuperar a busca de compreensão da dimensão energética, que havia sido colocada para escanteio, a partir da hegemonia da teoria mecânica. Em certo sentido, o holismo teve para as ciências humanas o papel da teoria da relatividade, de Einstein, para as ciências exatas, ao reintroduzir a energia no estudo da matéria. Os resultados advindos do holismo, porém, não têm se mostrado tão animadores, pois seus seguidores ainda apresentam dificuldades em interagir com a realidade material.
O movimento ecológico internacional, por sua vez, apesar de um início acanhado e bastante contestado, foi-se mostrando consistente e vitorioso, e hoje já ultrapassa as fronteiras de movimento social. Venceu muitas resistências e até já conseguiu incorporar suas teses e bandeiras às políticas de governo e de grandes empresas.
Acreditamos, no entanto, que é chegada a hora de esses movimentos darem um salto qualitativo, introduzindo na sua leitura de mundo uma filosofia produzida e amadurecida em nosso meio: a da sabedoria popular.
A despeito de não poder (nem pretender, aliás) ser considerada melhor que outras, a sabedoria popular (brasileira) nada fica a dever a pretensas ideologias/teorias importadas. Levá-la seriamente em consideração só poderá trazer avanços: além de tornar mais realista a relação dos indivíduos com seu meio, permitirá uma releitura de todas as teorias, energéticas ou não, a partir da
dimensão da energia material humana.
Para a sabedoria popular essa energia material humana é produzida/reproduzida pelas relações que se dão entre os seres humanos. Compreender sua origem e funcionamento é essencial para se cultivar a liberdade e a capacidade de sermos sujeitos em nossas relações. É ela que determina nossa ligação com as demais dimensões de energia: dos astros, das águas, dos símbolos, das formas, dos números, das cores, dos alimentos, dos outros níveis de vida e da própria realidade sobrenatural.
É preciso atentar, todavia, para o fato de que essa energia tem um caráter ambivalente: pode ser positiva (vital) ou negativa (mortal). Na medida em que não temos aprendido a nos desfazer da negativa, nossa relação com as demais dimensões energéticas tende a ser ilusória e ruidosa, produzindo mais mal do que bem, tanto para nós quanto para os nossos semelhantes e o nosso meio.
A energia material humana negativa ou mortal resulta de uma relação de agressão do indivíduo à sua própria natureza, ao transgredir algumas leis essenciais que regem nossos instintos de sobrevivência e de preservação da espécie.
Ter uma vida saudável requer a busca contínua para se livrar das cargas dessa energia que temos produzido/reproduzido em nossas relações. Infelizmente, porém, a maioria dos nossos
atuais hábitos são no sentido de se conviver com essa energia e não de dela nos desfazermos, pois que estão todos assentados em um saber que reduz a
matéria apenas à sua dimensão de
massa. Essa consciência deve nos induzir a uma real mudança de hábitos e valores, superando os
mitos criados pelo atual saber hegemônico. É na sabedoria popular que iremos encontrar a inspiração para tal mudança, pois que ela jamais deixou de considerar a dimensão da
energia existente na matéria.
A grande virada se dará ao (re)incorporarmos à nossa visão de mundo a dimensão da energia material humana para não agredirmos, por ignorância, a nossa própria natureza humana (EGOlogia). Respeitando-a, por via de conseqüência, voltaremos a ter uma relação harmoniosa com a natureza ambiente (ECOlogia). Com essa visão, buscaremos nos desfazer de toda carga de energia material humana negativa ou mortal e cultivar a positiva ou vital (neo-holismo).
Só assim podemos nos tornar sujeitos de nossa própria história e de uma nova história humana. Só assim será possível aproveitarmos, de maneira construtiva e em favor da felicidade, todo o acervo de conhecimento já produzido pela humanidade.
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