Essa é uma das mais antigas e conhecidas práticas da sabedoria popular, cuja racionalidade é analisada por G. Fábio Madureira, em seu livro “Racionalidade da Sabedoria Popular: energia material humana e sexualidade“, lançado no Palácio das Artes, dentro do programa “Sempre um papo“.
O viajante, exausto pela longa caminhada ou cavalgada, encontrava no “escalda pés” a ponte para uma boa noite de sono. O trabalhador, extenuado pela longa e difícil jornada, recompunha, através dele, um tanto de suas energias. As crianças, depois de um dia agitado, recebiam por ele carinho e um ótimo sonífero.
É um ritual gostoso e que não nos toma tempo. Feito geralmente à noite, pode participar da antiga roda de viola, ao redor da lareira ou do fogão de lenha, como também da moderna roda de televisão.
Como fazer
Ferventam-se de dois a três litros de água que, em seguida, serão despejados em uma bacia. É bom que aí se adicionem algumas pitadas de sal, de preferência, o grosso.
Posiciona-se a bacia ao alcance dos pés que, de imediato, não conseguirão imergir. É que a água está muito quente, pelando. Daí chamar-se de escalda pés.
Mas como da água estará brotando um bom vapor, é por ele que os pés começarão a se sentirem massageados. Para isso é necessário que a pessoa esteja sentada a uma altura e em algum lugar que lhe permitam deixar os pés suspensos sobre a água, sem que isso signifique qualquer esforço.
Devagarzinho os pés vão se acostumando com o calor e, após experimentar algumas imersões, eles se sentirão bem e relaxados, agora já totalmente mergulhados na água que, certamente, ainda estará bem quente.
Mantê-los assim durante uns 30 minutos, com o corpo o mais entregue possível.
Quando sentir que a água começa a perder a quentura, retirar os pés dela, enxugá-los e, em seguida, agasalhá-los. Não é bom que eles tomem algum ar frio. Por isso o ideal é que, logo após o escalda pés, a pessoa já vá para a sua cama.
E, certamente, terá um bom sono.
Por que fazer
Além de ser um bom sonífero, o escalda pés é, por natureza, um ótimo relaxante. Por isso, ajuda nos casos de torcicolos e dores musculares em geral, além de aliviar as dores de joelho.
E o que tem a ver escalda pés com energia material humana, nosso objeto de estudo?
Recuperada a dimensão de energia da matéria, tomamos consciência de que fazemos parte de um sistema energético. Como um de seus subsistemas, cada um de nós produz/reproduz, processa e emite/recebe as energias que estão circulando nesse sistema.
Por fatores diversos, não temos sabido nos desfazer das cargas de energia material humana mortal ou negativa produzidas e/ou recebidas. Pelo contrário, analisando nossos atuais hábitos, verificamos que através deles estamos reproduzindo e ampliando essas cargas. E é essa energia negativa a matéria prima de todos os nossos males, físicos e espirituais.
Como é uma energia antinatural, nosso corpo tende a expulsá-la. Só que nossos atuais hábitos (uso constante de sapatos, por exemplo), além de não favorecem a essa expulsão, ou a inibem ou a impedem.
Todos os nossos órgãos passam a ser agredidos por ela. Como os pés são, por natureza, região de escape (por isso não dispõem de cascos como vários outros animais), eles terminam sofrendo essa agressão sistemática e ininterruptamente. Daí os tais dos pés frios ou dos pés fogueando. É que essa energia é frígida, e pior ainda, é de um frio que queima, como se fora o gelo seco (a febre é o melhor exemplo disso).
A água é um excelente condutor, principalmente se salinizada. Estando bem quente, estimula a expulsão dessa energia material humana mortal ou negativa, absorvendo grande parte dela, presente em todo o nosso corpo, e produzindo um estado geral de bem estar.
Pratique regularmente o escalda pés e você não terá a cabeça quente. Tenha sempre a cuca fresca!