G.Fábio Madureira
Se na esfera social
tem-se por crime o delito,
no sistema natural
gera o pecado o conflito
O pecado é a transgressão
de qualquer lei natural
que regula uma função
do sistema corporal.
Não só o corpo pessoal
mas também o coletivo:
no sistema universal
somos objeto ativo.
Na redondilha maior,
sete sílabas marcadas,
é que eu busco o melhor
para a vida ser cantada,
Sete sílabas em um canto
que decifre os pecados
que, para meu grande espanto,
por muitos já são negados:
os mesmos que, em outro momento,
tentam a todos convencer
que do pecado o intento
é ser fonte de prazer.
De prazer nada entendem
esses “sabidos” senhores,
só alívio é que lhes rendem
suas ações de agressores.
I
Se na esfera social
tem-se por crime o delito,
no sistema natural
gera o pecado o conflito.
Se o indivíduo se acha deus
não tem noção do global,
destrói até mesmo os seus
e acha tudo natural.
Pode ser até normal
e é esta a confusão:
normal virar natural,
sistema não existir não.
Sem a noção de sistema
não se percebe o pecado,
tudo faz parte do esquema
nada se vê transviado.
Isso nasce da visão
de matéria igual à massa:
nessa não cabe não
um real que se entrelaça.
Massa faz supor fronteira
muito bem delimitada
e é com essa viseira
que se enxerga quase nada:
a relação não importa,
nunca que ela é sujeito,
é a fronteira da porta
que se fecha pro suspeito
ou a fronteira das horas,
do tempo que é contado,
como se fosse lá fora
no futuro ou no passado.
Nessa visão não há lei,
tudo tudo é permitido,
todo indivíduo é seu rei
mesmo sendo um bandido
Tudo tem bem seu começo
como também o seu fim,
tudo que vejo e que meço
cá dentro ou fora de mim.
II
Se porém se recupera
da matéria a energia
essa visão se altera
é o sistema que guia.
Nele não há fronteira
nem de tempo nem de espaço,
a energia se esgueira
e tudo se entrelaça:
sujeito vira objeto
e objeto vira sujeito
e com muito ou pouco afeto
tudo às leis fica sujeito,
porque em todo sistema,
para que bem funcione,
existem leis e não se teima
sejam coisas ou seja o homem.
Sete leis determinantes
pro sistema funcionar
e poder seguir pra diante
buscando se aprimorar.
Cada elemento precisa
ter as sete leis em mente,
seu próprio sistema avisa
pela dor que às vezes sente:
é que u’a lei foi transgredida
e a harmonia quebrada,
a natureza agredida
com energia alterada
que pelo sistema se alastra,
matando tudo que toca,
fazendo da mãe madrasta
que o próprio filho enforca,
num gestual invisível
de quem só deseja o “bem”,
mas foi seu desejo incrível
que sufocou com desdém.
Dessa primeira agressão
as outras se originam:
são os sete em ação
que todo o sistema minam,
reproduzindo e ampliando
a energia mortal
e só agressão gerando
a tudo que for natural.
III
Todo sistema precisa
para um bom funcionamento
de uma postura precisa
de todos os elementos,
ainda mais se este sistema
se encontra em evolução.
Diminui-se o dilema
com todos tendo a noção:
nosso sistema humano
produz a própria energia,
entram anos e sai ano,
buscando mais harmonia.
A produção é por par
que a natureza criou
e a reprodução se dá
no singular que herdou.
Comunicabilidade,
quando fala o outro escuta;
e adaptabilidade,
se um espicha o outro encurta;
de um para o outro, respeito,
cultivando autonomia,
porque apenas desse jeito
tem-se a tal da harmonia;
e a solidariedade
para a vida ser criativa
com economicidade
na natureza reativa.
São sete leis que em teia
nosso sistema regulam
e não há quem as tapeie
sem que a vida os engula:
com a dor sempre por perto
e a morte prematura
é o que toda criatura
paga por não agir certo,
pois o corpo é também
regulado pelas sete
e só à paz diz amém
se infrações não comete.