A Páscoa cristã celebra o início da implantação do reino do
verdadeiro amor aqui neste mundo.
Os sabichões do atual modelo de saber dominante, porém, por negarem a dimensão da energia na matéria, afirmam categoricamente a normalidade das relações que se assentam no
amor e ódio.
Como pode existir amor onde reina o ódio? O amor tem como matéria prima a energia material humana vital/positiva que, sendo natural e primitiva, é calorosa, perfumosa, oleosa e doce.
Já o ódio tem como matéria prima a energia mortal/negativa que é a vital/positiva represada,
reprimida pelo medo, especificamente o medo do desejo em todas as suas formas, e convertida em frígida, fétida, seca e salamarga. São duas energias, pois, de naturezas diferentes, embora ambas sejam humanas: uma é natural e a outra, artificial. Por isso, apesar de coexistirem, jamais se misturam, porque se assim acontecer o calor vira frio, o óleo vira sebo (seco), o perfume vira mau-cheiro e a doçura vira amargor. É só nos lembrarmos de uma batata podre no meio de várias sadias. O mal contamina. O que nos alenta é que ele jamais germina!
O que esses sabichões chamam de amor e ódio é, portanto, na verdade
, inveja e ódio ou, com muita boa vontade, ódio e vontade de amar. Daí que as terapias que propõem jamais levam a bom resultado, à cura. Como interferir em e alterar uma realidade se a enxergamos de maneira falsa e truncada? Por isso, cada vez mais, as relações não se sustentam e o normal passou a ser a agressão e a separação. Tudo isso porque não se encara a verdade original que é a inveja. E essa, curtida como se fora amor, só pode desembocar num ódio cada vez mais intenso.
Inveja e ódio, irmãos gêmeos que geram como escudo um
orgulho cada vez mais cego e surdo.
A Sabedoria Popular tinha essa percepção. Daí sua insistência em se buscar a vivência da humildade e de ensiná-la e cobrá-la de suas crianças, tendo como modelo de indivíduo o
enxuto. Por isso havia um respeito sagrado ao desejo das crianças, pois sabiam que o desejo reprimido deixava-as aguadas. E uma
criança aguada é o alicerce para um adulto invejoso que viverá de ódio e revolta, tornando-se uma pessoa orgulhosa e, portanto, intratável para a coletividade
.
Com tudo isso, vêm os sabichões do saber mecanicista e apregoam a normalidade da relação de amor e ódio. E ainda explicam sua origem: é o fato de a mulher não ter o que o homem tem. Se isso fosse verdade só as mulheres seriam invejosas e os homens não. Não sabem eles que o que determina a inveja não é ter ou não ter, e sim, ser ou não ser. E a determinação do ser se mede pela sua capacidade de sentir, de usufruir o que se tem
. Por isso o invejoso não consegue amar. Nunca entra em comunhão com o sentimento do outro: sente tristeza com a alegria do outro e se “alegra” quando o outro fracassa.
Foi para desfazer, pois, o mito do amor e ódio, combatendo sua falácia, que Jesus veio ao mundo, entregou-se espontaneamente à morte e com sua ressurreição provou que era o verdadeiro dono da verdade. E por isso ele pregou a conversão para uma vida nova, dizendo-se a “fonte de água viva” e sobre a necessidade de se nascer de novo para se conquistar a verdadeira vida.
E a verdadeira vida é aquela que se assenta no amor que tenha como modelo o do próprio Jesus: “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. Só esse
Amor tem como produto a
paz e como escudo a
humildade. E as relações que se baseiam nesse tripé só tendem a amadurecer rumo a tal “vida em abundância” que Ele veio nos trazer.
Por isso a verdadeira Páscoa é a superação da
lógica do alívio, que cultiva e cultua a energia material humana mortal/negativa, para a
lógica do prazer, que cultiva a energia material humana vital/positiva ou, nas palavras do Ressuscitado, dos pecados/vícios para as virtudes.
Que você tenha uma feliz e permanente Páscoa!
E para contribuir com sua reflexão, leia a
poesofia enxuto que explicita o modelo de indivíduo pregado pela Sabedoria Popular.