G.Fábio Madureira
Rio de Peixe, meu rio,
lavaste-me da aflição.
Conserve minh’alma no cio
da vida em recriação.
Jequitinhonha, Jequitinhonha,
corre leve e manso.
Leva de mim essa inconha
e me deixe só no descanso.
Paraibuna, Paraibuna,
ordene essa mixórdia,
fecunde tudo que una,
carregue toda a discórdia.
Paraopeba, Paraopeba,
força da natureza,
leva, lave e quebre
essa alma de dureza.
Rio das Velhas, Rio das Velhas,
cuja lenda lembra morte,
livra-me de todas as peias
que atravancam minha sorte.
Esgotado Arrudas, mas calmo,
recebes de todos o vício
compondo um triste salmo
de perdão pelo desperdício.
Bota-vira, se rio não és,
tens do Arrudas igual destino ,
vira nosso medo em fé
e o medo em um só hino
de louvor à natureza
que me deu essa certeza
de combater o desatino
de vidas que, por fraqueza,
suicidam seu lado mais forte,
só sustentando a morte
de sua própria natureza.