Quando perscruto o âmago
desta civilização
não ultrapasso o estômago,
nunca chego ao coração.
É que a cabeça é movida
pelo produto gasoso
que nos empana a vida
atrapalhando o gozo.
O estômago é usina
de tudo que se consome
e por ele se refina
o que dizem ser um homem.
Usina sem a cadência
de ritmo e de compasso,
produzindo uma ciência
que da vida só tem traço.
Se o coração é tambor
de uma vida verdadeira,
essa usina o negou
se fazendo a timoneira
atua à revelia
do desejo da pessoa
que, nasce dia, morre dia,
só seu estômago ressoa.
Produz o gás repressor
do desejo que aviva
virando um condensador
da energia primitiva.
É por isso que se escuta:
“ fulano tem muito gás
dinâmico, um batuta!
não vacila, pega e faz.”
Sem a menor harmonia!
E é esta a questão:
vive sempre em sintonia
com o tal homem de ação.
Que ele faz, ninguém duvida.
Não é esta a questão.
Produz morte ou produz vida!
Só constrói na destruição.