G.Fábio Madureira
Camas almofadadas.
Fofos travesseiros.
Ar condicionado
(ao medo).
Luzes. Espelhos.
Um luxo só.
E em cada um
um nó
de se dar dó.
Apagadas as luzes,
os espelhos morrem
o calor vai embora
esvai-se a vida.
Só escuridão:
por dentro e por fora,
não mais que excitação.
E os fantasmas
cegando os nós
trançam fita
ao ritmo
da melodia
das fantasias
do dia-a-dia
que, rasgadas,
deixam nua
a bruxaria
do peso
de um sexo
sem nexo
com o desejo.
Deste caldeirão
que borbulha
pela energia do não
não brota fagulha,
só gás desprende
seco e frio
perceptível, porém enganoso
invisível, porém insinuante
e o meio asfixia
a febre chega
aumenta a tosse
ronca a chieira
o nariz entope
complica a bronquite
anuncia-se a sinusite
pela noite inteira.
No outro dia
o médico explica
com toda sapiência
o problema da cria.
Sisudo, pontifica,
com base na ciência,
que tal desarmonia,
que então se verifica,
resulta da carência
de belas fantasias
que é o que vivifica
nossa pobre existência.