17 – Sabedoria Popular X Ciência:

Superação do cio biológico: A história humana (individual e coletiva) é determinada pela superação do cio biológico da fêmea em busca do cio psicobiofísico.          A Sabedoria Popular sempre considerou a dimensão da Energia Material Humana na sua visão de mundo.          O afluxo sanguíneo é que gera a potência genital, seja no homem, seja na mulher.          As doenças do corpo e da mente são alimentadas pela energia material humana mortal/negativa.          Fusão genital é o modelo de relação sexual onde homem e mulher vivenciam sua potência genital.          O modelo de vida (individual ou coletiva) da auto-regulação pressupõe a consciência e o enfrentamento da realidade do pecado.          A noção de pecado originária da Sabedoria Popular é porque essa sempre considerou a dimensão da energia material humana na sua visão de mundo.          Para a Sabedoria Popular pecado é a transgressão de alguma lei que rege a natureza humana.          Potente é quem, mais do que em suas capacidades, tem consciência de seus limites e os respeita, buscando sua superação.          A vivência da virtude nos faz potente e a vivência do pecado nos deixa impotente para amar e gozar a vida.          Não existe pessoa desorganizada: uns se organizam para ter paz, outros para ter aflição.
16 – Escalda pés:
02/04/2020
18 – Racionalidade e espiritualidade (cristã)
02/04/2020

Jamais negando a dimensão da energia na matéria a sabedoria popular guarda mais proximidade com a ciência do que a maioria das teorias que se dizem científicas.

Quem já viveu no interior, principalmente no meio rural, tem algum caso para contar que escutou ou vivenciou referente a mau olhado, quebranto, espinhela caída, carne quebrada, entre outros. É que a sabedoria popular, por detectar e valorizar a dimensão energética da matéria e, principalmente, por distinguir nessa dimensão dois lados ou duas faces, desenvolveu formas de com ela lidar, enfrentando o seu lado negativo.
De todas as formas conhecidas, a mais comum e reconhecida é a das benzedeiras. Até há pouco tempo, uma criança que tivesse com seu estado de humor alterado, sem se alimentar direito e com sono atribulado jamais iria ao consultório médico. O seu destino normal era a casa de uma benzedeira, donde a criancinha saía tranqüila, passando a comer bem, a dormir como anjinho e a curtir a alegria de sua inocência.
O que preocupa é que hoje, geralmente, essa criança vai parar num consultório médico, donde sai com vários pedidos de exames e certamente com receita de tranqüilizante e estimulante de apetite. Além do seu verdadeiro problema não ser enfrentado, esses procedimentos vão criando e reforçando na cabeça dessa criança a idéia de uma normalidade mórbida e a dependência de cuidados médicos e de remédios para o resto da vida.
Por mais que o médico seja dedicado e competente, dificilmente a questão seria resolvida, mesmo que alguns sintomas fossem temporariamente minimizados. É que o saber que sustenta o atual modelo de medicina tem os mesmos limites da racionalidade mecânica, ou seja, trabalha com um conceito de matéria que pouco ou nada incorpora a dimensão energética.
Ao desconsiderar a dimensão energética da matéria, esse saber impede que se chegue às verdadeiras causas dos males, atuando apenas nas suas conseqüências, ou seja, naquilo que é visível, mensurável e palpável através de aparelhos e processos laboratoriais. Assim se expressa um dos principais pressupostos desse saber, senão o principal: a causa dos males humanos está no meio ambiente físico, nele se incluindo até a natureza.
Quando uma criança, ao pôr os pés no chão, reclama de algum incômodo, ou se tiram as pedrinhas ou se lhe põe um sapato. Já dentro da visão da sabedoria popular, a causa do incômodo não está nas pedras e sim no fato de essa criança estar carregada de energia negativa, impedindo seus pés de ter uma relação prazerosa com esse elemento da natureza.
Aqui, o enfrentamento se dá através de algum ritual de descarrego para devolver a essa criança sua normalidade natural, propiciando-lhe uma relação erótica com o chão que pisa.
Já a atual visão do saber dominante de que a causa do incômodo está nas pedrinhas induz o indivíduo a se distanciar cada vez mais da natureza e mais ainda, a considerar como natural as reações mórbidas do seu corpo, levando-lhe a ter uma relação neurótica com os elementos naturais. Dessa maneira, esse indivíduo não estará buscando seu próprio aperfeiçoamento, jamais se desfazendo das cargas negativas herdadas. Muito antes, pelo contrário, estará incorporando-as cada vez mais.
No meu entendimento, os procedimentos de que lança mão a sabedoria popular para lidar com a energia negativa, mesmo que esses às vezes estejam eivados de superstição, traduzem maior grau de cientificidade do que aqueles oriundos do saber racionalista mecânico.
Ao lidar com o conceito de matéria mais próximo do verdadeiro (Eistein que o diga), a sabedoria popular propicia um enfrentamento mais eficaz na relação do homem com seus males. Sem pretender esgotar toda a complexidade dessa questão, eu diria que as benzedeiras ou similares não fazem nada mais, nada menos do que o papel de pára-raio.
Por alguma razão que não cabe aqui detalhar, essas pessoas têm o dom e/ou um aprendizado inconsciente de captar do outro a energia negativa, devolvendo-lhe o bem-estar. O complicado dessa questão é que, de uma forma ou de outra, em algum momento, todo indivíduo exerce esse papel de pára-raio, mas quase que sistematicamente quem o exerce são as crianças. E como hoje elas não têm tido oportunidade de aprenderem a se desfazer das cargas recebidas, elas as têm sempre incorporado, tornando-se neuróticas desde tenra idade.
Daí a necessidade de deixarmos de lado os nossos preconceitos e passarmos a estudar cientificamente a sabedoria popular.
Até há pouco tempo, quando o Brasil era mais rural que urbano, por mais que as pessoas se envolvessem com o saber tecnocrático, de alguma forma elas tinham a oportunidade de ter algum contato e aprendizado no campo da sabedoria popular. Talvez aqui esteja a explicação para o bom desempenho das gerações que tiveram algum pé na sabedoria popular e a necessidade de se incluir no curriculum das atuais gerações a tal da inteligência emocional. É que quem bebeu das águas da sabedoria popular teve a oportunidade de desenvolver, em maior ou menor grau, a ainda desconhecida inteligência espiritual que, é claro, incorpora o conceito de inteligência emocional.
Mas, como vivemos numa sociedade que gira em torno da produtividade na economia, e percebendo-se que os atuais agentes econômicos não têm tido maturidade na relação interpessoal, surge a necessidade de um saber específico que tente dar conta dessa falha na aprendizagem, criando-se a teoria de inteligência emocional.
Acredito que tal teoria tem ajudado a empurrar um pouco mais para frente o enfrentamento básico do homem: como lidar com a energia negativa. Digo empurrar para frente porque um real enfrentamento jamais se dará através do saber racionalista mecânico, nem tampouco através de exercícios comportamentais.
Uma relação erótica com a gente mesmo, com o outro e com a natureza não resulta de exercitação e sim, de um estar bem na própria pele. E esse estar bem na própria pele é conseqüência de um se desfazer de todo mal que carregamos, ou seja, das cargas de energia negativa herdadas e/ou captadas.
Daí a minha insistência na necessidade de se estudar o grau de racionalidade da sabedoria popular. Que ela sempre percebeu a matéria como uma relação entre massa e energia, não há como se negar. Basta analisarmos seu linguajar, suas práticas, seus hábitos e seus valores. Mas, principalmente, seu método de produção e reprodução de conhecimento, a que tenho chamado de concretude dialética..
Mesmo com toda a força do movimento iluminista e a conseqüente redução do conceito de matéria a apenas sua dimensão de massa, a sabedoria popular permaneceu viva e vibrante. Entretanto, com a ascensão da tecnocracia e o processo de universalização desse saber e seu respectivo modus vivendi, a sabedoria popular vai sendo progressivamente combatida e ridicularizada. Sábia estratégia de dominação!
Só que, paradoxalmente, a tecnologia dá saltos fantásticos a partir da incorporação da dimensão de energia ao conceito de matéria. Tal processo ainda não chegou ao saber que trata do homem e de seus comportamentos. Isso, porém, é coisa de tempo. A busca de maior grau de racionalidade é inerente à condição humana. Contrariamente, porém, a pobreza de espírito tem visivelmente crescido em todos os níveis da pirâmide social. É claro! Como se sustentar uma reflexão conseqüente sobre valores num ambiente de negação total da dimensão energética do ser humano?! Não há como se discutir ética dentro de uma visão da matéria reduzida à sua dimensão de massa.
Daí minha convicção de podermos encontrar na sabedoria popular respostas a muitas questões que angustiam atualmente os indivíduos e as coletividades. Afinal, ela não é produto de laboratório e, nem tampouco, do controle de algumas variáveis.  Ela resulta de um processo milenar e coletivo da busca do ser humano por um modelo de vida e de sociedade com maior grau de humanismo. Uma busca que jamais abriu mão de perceber a matéria como uma relação entre massa e energia, base da concretude dialética..
Só incorporando à nossa visão de mundo esse conceito de matéria poderemos dar o tão sonhado salto de qualidade: superarmos a sociedade produtivista e iniciarmos a construção da sociedade construtivista.

G.Fábio Madureira