2 – Boca Boa!?

Superação do cio biológico: A história humana (individual e coletiva) é determinada pela superação do cio biológico da fêmea em busca do cio psicobiofísico.          A Sabedoria Popular sempre considerou a dimensão da Energia Material Humana na sua visão de mundo.          O afluxo sanguíneo é que gera a potência genital, seja no homem, seja na mulher.          As doenças do corpo e da mente são alimentadas pela energia material humana mortal/negativa.          Fusão genital é o modelo de relação sexual onde homem e mulher vivenciam sua potência genital.          O modelo de vida (individual ou coletiva) da auto-regulação pressupõe a consciência e o enfrentamento da realidade do pecado.          A noção de pecado originária da Sabedoria Popular é porque essa sempre considerou a dimensão da energia material humana na sua visão de mundo.          Para a Sabedoria Popular pecado é a transgressão de alguma lei que rege a natureza humana.          Potente é quem, mais do que em suas capacidades, tem consciência de seus limites e os respeita, buscando sua superação.          A vivência da virtude nos faz potente e a vivência do pecado nos deixa impotente para amar e gozar a vida.          Não existe pessoa desorganizada: uns se organizam para ter paz, outros para ter aflição.
1 – Amor, questão de pele:
02/04/2020
3 – A Sagumana ou Deus e o diabo na terra do só
02/04/2020

A gula impede que a boca cumpra o seu papel de saborear o alimento, permitindo que o indivíduo coma qualquer coisa.

Cada vez mais me assusta a relação que o ser humano tem tido com o alimento. Pior ainda quando esse indivíduo se diz cristão. É o próprio Cristo que disse: “O que importa não é o que entra pela boca do homem, mas o que dela sai.”

Essa mensagem explicita a idéia de que a origem do mal não está fora do homem, e sim, dentro dele. E o que vem de fora pode se transformar em mal em função do ambiente que encontre dentro desse homem. E se isso acontecer, de sua boca sairá o mal.

Completamente diferente da ideologia que tem orientado os atuais hábitos alimentares. Hoje se come porque tal coisa tem tantas vitaminas, tantas proteínas, tantas calorias, baixo teor de colesterol, baixo teor de glicemia, é diurético, não engorda, é anti-oxidante, e vai por aí afora! E vamos ficando cada vez mais por fora de nós mesmos. Em meio a um ambiente asséptico, esterilizado, orquestrado por homens e mulheres vestidos de branco da cabeça aos pés. A escolha não se faz mais motivada pelo amor, pelo gosto, e sim, pelo medo de que isso ou aquilo nos faça mal. Já não mais nos alimentamos. Cumprimos dietas. Mais uma vez reforçando-se a ideologia de que o mal se encontra é fora do homem.

Na Sabedoria Popular o certo ou errado em termos de comida era dado pela dimensão erótica. “Mais vale um gosto!” É o que sempre diziam. Nem a quantidade importava muito. O que de fato importava era tirar-se o máximo de prazer daquela relação. Daí o ambiente de paz e tranqüilidade que se exigia na hora das refeições. Daí a noção de temperança que sempre pairava no ar, junto com um cheirinho de comida feita no fogão de lenha e manipulada com o carinho de quem realiza um ritual sagrado. Que saudade!

Se não somos mais nem sujeitos de nossos gostos, quanto mais do paladar! Aliás quase apanhei um dia desses ao afirmar que paladar é diferente de gosto. Tentavam me provar que são iguais.

Quem assim pensa deve ter se mirado nos animais. Mas esses, apesar de não terem paladar, por mais inferiores que sejam na escala zoológica, continuam sabendo fazer, desde que estejam em seu habitat natural, o que o ser humano vai progressivamente desaprendendo: escolher os seus alimentos.

Não estou aqui negando os avanços e conquistas da ciência. Estou tentando mostrar os retrocessos e perdas que a ideologia que a sustenta tem imposto ao ser humano. Apesar de evidências e fatos sem número que a todo dia poderiam estar a nos por para pensar! Quem não sabe citar algum alimento que ontem era condenado por isso ou por aquilo e que hoje é elevado à categoria de salvador!? E quem também não sabe citar um exemplo ao contrário!?

Nossa cultura reprime o desejo de todas as formas e a todo tempo: “abre a boca nenem pro aviãozinho poder entrar!” É quando ensinamos e aprendemos a ser gulosos e a perder a verdadeira dimensão de prazer na relação com o alimento. Depois, sataniza o prazer em geral, fazendo-nos confundi-lo com alívio, vendendo, portanto, a idéia de um falso erotismo. Com isso reforçando a noção de que o vício ou pecado é que é a origem do prazer. Mas, sobretudo, nos obrigando a passar a ver na matéria apenas a dimensão da massa.

Se recuperarmos, porém, o verdadeiro significado do conceito de matéria, (aquele, usado nas ciências de ponta, que permite a existência de celurares, internet, energia nuclear, etc.) tudo tende a mudar. Voltaremos a buscar nos alimentos (matéria) a sua dimensão energética, o seu sabor, o seu valor; e recuperaremos até a consciência de que temos paladar; de que alívio é diferente de prazer e de que a gula nada tem a ver com desejo e, sim, com compulsão.

E quem por compulsão se alimenta (instinto de sobrevivência), certamente por compulsão se relacionará com outros elementos da realidade material e, principal e infelizmente, com os seus semelhantes (instinto de preservação da espécie). E nessa relação a palavra tem, cada vez mais, tido um papel fundamental. E se ela é expressa por alguém que desconhece seu desejo, não sabe de si, age é por compulsão, certamente seu conteúdo não revelará a verdade. E toda palavra que oculta a verdade é mensageira do mal.

A gente só dá o que tem. E só tem o que colhe. E só colhe o que planta.

G. Fábio Madureira