Se na esfera social
tem-se por crime o delito,
no sistema natural
gera o pecado o conflito
O pecado é a transgressão
de qualquer lei natural
que regula uma função
do sistema corporal.
Não só o corpo pessoal
mas também o coletivo:
no sistema universal
somos objeto ativo.
Toda culpa é consequência
da natureza agredida
e, do inconsciente, a ciência
de toda lei transgredida
Ninguém é mau porque quer.
Todos querem usufruir,
seja homem ou mulher,
desta vida a fluir.
Mas pra isso é preciso
sua potência exercer
tendo perfeito juízo,
que esse é o centro do viver.
Essa potência se mede
pelas tais funções orgânicas
e à moral nunca que cede
em suas buscas messiânicas.
O ser homem é um conjunto
de um tanto de funções.
E se elas não andam junto,
revigoram-se as convenções.
Convenções que só sustentam
os vícios e suas causas.
E o corpo não aguenta,
termina sendo só náuseas.
Náusea do que é natural,
náusea até mesmo de si,
elegendo o que é normal
pra driblar o seu sentir.
Reconhece a impotência
e com ela faz um pacto
de criar uma ciência
pra viver só para o fato.
Só que o homem não se afere
pelo fato objetivo.
O que o toca e que fere
é o fato subjetivo.
Veja a lei da gravidade!
Não se altera por decreto!
Lidar com propriedade:
só assim é que dá certo.
Nosso corpo é natureza
que devemos cultivar
e com toda a nobreza
suas leis observar.
Agredi-las é pecado.
Não é questão de moral.
É da física o recado
de lidar com o natural.
II
Negam atuais teorias
do pecado a existência,
criando até terapias
pra atuar na consequência.
Toda culpa é consequência
da natureza agredida
e, do inconsciente, a ciência
de toda lei transgredida.
O sentimento de culpa
é apenas resultado
que não precisa de lupa
pra saber o que é pecado.
A natureza não revida,
ela espera e um dia vinga
a quem lhe fez a ferida
dela saindo a catinga.
E o corpo geme e grita,
senão hoje, no amanhã,
o que na alma aflita
pactuou com o satã.
Que a natureza odeia,
pois que dela não faz parte:
o artificial permeia
com ares de bela arte.
III
O pecado é um desperdício
de nossa humana energia
que, guindada pelo vício,
só cria desarmonia,
gerando curto-circuito,
fazendo o corpo pesado
e a alma, sem intuito
de lidar com o herdado:
alma e corpo impotentes
ante um mundo organizado,
a fazer-nos dependentes,
e o amor bem represado.
IV
O mal é cria do homem
e se espalha no ambiente,
gerando um mundo de fome
e de gente só doente.
Buscar ser bom nesta vida
é do mal se desfazer:
o que nasceu da caída
de Eva a se oferecer.
É aqui que a lei primeira
da natureza em oferta
foi colocada na beira
da humana busca inquieta.
Criou-se a super-potência
numa visão só mecânica,
produzindo uma ciência
cuja missão é satânica,
tirando do homem a magia,
sua dimensão divina,
transformando em bruxaria
a potência feminina.
Este é o original
que fabrica os demais,
que, na física ou moral,
são chamados capitais.
G. Fábio Madureira