O poder curativo do tabaco
O tabaco, eu e a energia material humana
G. Fábio Madureira
Devia ter entre 5 e 6 anos. Já há alguns dias estava namorando uma manga que se escondia bem na grimpa do pé, lá no quintal do Tio Moacir. Assim chamávamos um conjunto de lotes vazios que ficavam pertinho de nossa casa e onde havia o pé de mangas tão cobiçadas. Não porque eram diferentes das outras. Simplesmente porque eram mangas e seriam chupadas por quem as achasse primeiro. Esse era o seu maior sabor.
E aquela estava lá me esperando! E aquele era o dia! Certamente ela já estava madura e ninguém a tinha visto ainda. Pelo menos lá estava ela!
Com a agilidade de quem praticava arborismo, sem saber que isso viraria esporte chique no futuro, em dois tempos já estava na galha mais alta. Como minha namorada estava na ponta e um pouco entre as folhas, tive que me deitar na galha e esticar ao máximo um dos braços para alcançá-la. Ao tocá-la, senti-me tocado por outras coisas além das rotineiras carícias das folhas. Era ferroada mesmo! E várias!
Sem nem me lembrar da altura em que estava, pulei para o chão e disparei carreira, sacudindo a mão ferroada e chorando. E foi desse jeito que passei pela cerca de arame que dava para a boca do Leiteiro. E ali mesmo fui esbarrado por uma preta que trazia um balaio na cabeça e, me tomando pelo braço, perguntou:
– Que foi, meu nego?
Sem conseguir falar, mostrei-lhe a mão, chorando. Já estava inchando! E aí, chorei mais ainda.
– Liga não, meu fio. Peraí que já vai sarar. Esses danados desses marimbondos!…
Tirou o balaio da cabeça e pôs no chão. Só o balaio. A rodilha ficou. Pegou minha mão ferroada com sua mão esquerda. Fechou a outra deixando apenas um dedo de fora. Enfiou-o entre a bochecha e a gengiva, trazendo lá de dentro uma gosma meio escura. Passou essa coisa na região ferroada. Como num passe de mágica, a dor sumiu. Ajeitou a rodilha na cabeça, pegou seu balaio e se foi, sem antes de me dizer um “Deus te abençoe!”.
Apesar da idade, já sabia muito bem que coisa gosmenta era aquela. Papai tinha venda. E, vira e mexe, via as pessoas comprando fumo de rolo e, já ali mesmo, arrancando uma lasca e enfiando na boca. Já até sabia para que servia: clarear os dentes.
Só não sabia que misturado com saliva curava dor de picada de marimbondo.
Mas não foi esse episódio que me iniciou no tabaco. Foi meu pai mesmo. Ele fumava pouco, mas fumava. E como praticamente eu vivesse na venda, num certo dia ele resolveu me dar a guimba para experimentar. Gostei. E daí por diante, era só ele acender um cigarro que já começava a rodeá-lo. Até que, não sei exatamente por qual motivo, certo dia ele ma negou. Desapontado, disse-lhe que iria embora pra casa. Acho que ele não acreditou. Só me lembro de, já estando no meio da ladeira, escutar sua voz:
– Fabinho, volte. Eu vou te dar.
Não me lembro mais quanto esse ritual durou. Só sei que aos poucos fui me virando. Nesse sentido, lembro-me de, de vez em quando, pegar um maço só para mim e esconde-lo no meio de minhas coisas para ir fumando às escondidas. Sem falar no talo de chuchu!
Pior que isso, porém, foi o cachimbo de mamona que um dia resolvi fazer!
Peguei um talo da folha e enfiei num pedaço do tronco, tendo seu nó como base. Piquei o fumo de rolo e enchi meu cachimbo. Comecei a riscar os fósforos e foram vários, porque a mamona era verde. Nem me lembro de quantas tragadas eu dei. Só me lembro de estar voltando a mim meio zonzo e com vontade de vomitar, deitado na mesma cama onde fizera tudo às escondidas.
Esse caso me afastou por um tempo do tabaco, até que chegasse à conclusão que foi o verde da mamona que me fizera mal. Voltei a pegar os maços na venda. Principalmente quando ia para a roça, nas férias. Aliás, foi por causa disso que saí de uma encrenca, quando o tio João se esqueceu de mandar animal para me pegar no ponto do Zinho.
Zinho era conservador de estrada e por isso tinha uma casa na beira. Era lá que a gente descia do ônibus e ficava aguardando os animais. Nesse dia, porém, meu tio se esqueceu do nosso combinado e o Zinho estava fora com a família. Sem lugar para me abrigar do sol que já estava forte, entrei no pasto que havia em frente e me sentei debaixo de um ranchinho, que tinha um coxo de água para os animais.
Como toda criança da época, e eu ainda tinha oito anos, estava de calça curta. Logo que me assentei na beira do coxo, senti algo subindo pelas pernas. Quando olhei, tomei um baita de um susto. Minhas pernas estavam pretas de carrapatinhos. Não tinha como me livrar deles com as mãos. Foi então que me lembrei do ritual de sapecação. Como trazia comigo a caixa de fósforos para fumar escondido com meus primos, fiz uma pequena fogueira, arranquei a camisa e sapequei-a. Foi o que me salvou. Com duas ou três vezes que fiz isso e a passei nas pernas, não ficou um bichinho!
Terminado o grupo primário, fui para o seminário. Sempre com um maço de cigarro para dar as minhas tragadas escondidas. Até que, já tendo quatorze anos e voltando de férias, automaticamente tirei um cigarro do bolso e o acendi. Só havia me esquecido que estava na sala da minha casa, sentado em frente à minha mãe e ao lado de minha irmã mais velha. Quando dei por mim, já estava soltando as baforadas. De imediato, fiz menção de apagá-lo e pedi desculpas à mamãe que assim reagiu:
– Tem problema não, Fabinho. Você é homem e qual o problema de homem fumar? Eu fico triste é com sua irmã! Ela tenta esconder, mas eu sei que ela está fumando.
Daí a fumar na frente de papai, foi um pulo. Depois disso, assumi publicamente meu hábito. Hábito que só foi interrompido aos trinta anos de idade.
A partir dos vinte e sete, começaram a aparecer algumas inguisias na minha vida. Coisas que a medicina alopata, não dando conta, me obrigava a caçar outras soluções.
Uma delas foi minha dedicação em aprender o do-in. Só não fui mais longe porque os grupos de estudo terminavam terminando por inanição. Como suas técnicas remexem muito nossa relação corpo e mente, o pessoal ia desistindo e no final só ficávamos eu e o professor. Pelo menos foi assim por duas vezes, até que o professor também desistiu de montar novo grupo e nem topou dar aulas só para mim.
Embarcando na onda da “geração saúde”, passei a praticar mais esporte, em especial, envolvendo-me com o kung-fu, aonde cheguei até a faixa verde. Mas como o professor não sacava nada da filosofia que o criou, acabamos nos desentendendo.
Nesse ambiente de “geração saúde”, comecei a acreditar que cigarro podia estar me fazendo mal. Passei a imaginar sua fumaça me empretecendo por dentro! E isso foi tão forte, que, quando resolvi parar, já havia reduzido o volume de 20 unidades para7. O que facilitou minha transição para a vida de não-fumante. Não mudei meus hábitos. Continuei a tomar meus cafezinhos. Não passei a chupar bala nem coisa que o valha. E, acima de tudo, não me tornei um ex-fumante chato e, muito menos, fanático e “moralista”. Convivia tranquilamente com os fumantes e suas baforadas. Não só as gostosas como as desesperadas!
Vivi essa abstinência por oito anos. E eu, que com ela buscava saúde e qualidade de vida, só encontrei o aguçamento de minhas antigas inguisias e a conquista de algumas novas. Fui, nesse período, um peregrino dos médicos e seus laboratórios. Até tomar naquele lugar, eu tomei. Por uma suspeita de “xistose”, que não dava as caras em nenhum dos plausíveis exames, fui submetido, de forma enganosa, a uma coleta de material da parede do reto, para o tal do exame conclusivo.
Dr. Cambraia já morreu. E que Deus o tenha! Mas fez sacanagem comigo. Havia me dito que era um examezinho muito simples. Que só não fazia ali mesmo e naquela hora, porque estava sem a aparelhagem. Mas que no outro dia eu voltasse, pois iria trazer o aparelho e matar aquela dúvida.
No outro dia, mandou que me despisse. Em seguida, pediu-me que ficasse de cócoras. Falou que era coisa de alguns minutinhos. E começou a introduzir um aparelho no ânus. Tinha que abri-lo um pouco para enfiar a tesoura coletora. Mas que passava logo. E começou a dar manica. Era para retirar um pouco de material do reto. Podia ficar tranqüilo. Não ia doer nada. Mas era preciso. Daquele jeito a gente ia ter certeza de qual era o meu mal.
Doer não doeu. Mas foi uma experiência sinestésica. Cada picada da tesoura faz a gente sentir tudo ao mesmo tempo. Vontade de urinar-evacuar-gozar-vomitar! É horrível! Mas tinha que ser feito. Coitado do Cambraia. Só faltou-me chamá-lo de santo.
Esse exame não clareou nada. Como todos os outros que já havia feito. Sempre voltava tudo à estaca zero. Até concluir que a medicina alopata não daria conta. Foi quando, passando por cima de minhas convicções político-ideológicas, resolvi procurar a psicanálise. Negociei para que meu processo fosse em grupo. Aí permaneci por quatro anos.
Nesse ínterim, de vez em quando me via na necessidade de me socorrer da alopatia. Já não procurava mais o Dr. Cambraia, e sim, o Dr. Orlando, cujo enfoque era mais complementar a um processo analítico.
Nos nossos papos a questão do cigarro era constante. O Orlando querendo parar e eu retomando minha vida de tabagista. O Orlando dizendo ter vontade de também fazer análise, mas não encontrando jeito de viabilizá-la.
Após quatro antos, saí da análise. Ela me permitiu tomar consciência da dimensão da energia e de seu peso na nossa qualidade de vida, mas, sobretudo, de sua relação direta com a nossa sexualidade. Voltei a acreditar que “o que importa não é o que entra pela boca do homem, mas o que dela sai”. Havia desaprendido a me desfazer das cargas de energia material negativa. Pior ainda, havia aprendido a reproduzi-la e, principalmente, a produzi-la. E estava aí a causa de todos os meus males. Essa tomada de consciência só veio reforçar minha opção pela volta ao cigarro.
Contrariamente, Orlando estava encabeçando o início de uma campanha antitabagista na Assembléia Legislativa, que atualmente está no seu auge. Quem não fuma se acha melhor do que quem fuma. E praticamente já não há mais espaço livre para fumante. Pena que o Orlando morreu pouco tempo depois do início dessa campanha. Não deu tempo de a agente aprofundar nossas discussões. Agora com os argumentos que tenho a partir do conceito de energia material humana.
Nesse processo, porém, houve um fato que muito me marcou. Ainda estava com dúvidas sobre a retomada do tabagismo, quando alguém me convidou para ir assistir à festa de Iemanjá na Pampulha. Foi em um dois de fevereiro. A orla, nas proximidades da imagem, fica apinhada de gente. Velas, flores, barquinhos! A lagoa vira um altar de oferendas, com as chamas das velas tremulando fora e dentro d’água.. A cada passo encontra-se um novo tipo de ritual. E foi em um desses que parei.
Havia um grupo de uns 15 rapazes, com idade média em torno dos 25 anos, que iria começar a se reunir. Fiquei sabendo que era uma turma de caboclos. Como sou do Serro e os caboclos são o grupo da Festa do Rosário que mais encanta qualquer criança, não pensei duas vezes. Arrumei um local de boa visibilidade e me amoitei. (?)
Fiquei um pouco decepcionado ao saber que, ali, caboclo era um tipo de entidade e que, portanto, não tinha nada a ver com os caboclos da Festa Rosário. Mas alguma coisa me dizia que devia ficar.
Após se reunirem em roda, fizeram suas orações e se espalharam em torno do largo. Cada um trazia consigo um pequeno tamborete e uma vasilha vazia, de cerca de dois litros de capacidade, que colocava ao lado do tamborete. Sentados ou em pé, todos, sem exceção, tinham na boca algum tipo de objeto que soltasse fumaça: cigarro comum, de palha, cigarrilha, charuto ou cachimbo.
O interessado que se aproximasse para receber o passe recebia também algumas dezenas de baforadas. E, após algumas baforadas, o caboclo usava da vasilha para dar uma bela de uma escarrada.
Reparando nisso, resolvi ficar até o fim. Não me lembro mais quanto tempo durou. Mais de uma hora, com certeza. Só sei que, ao final, algo me impressionou em demasia. Praticamente todas as vasilhas estavam repletas de catarro!
Donde teria vindo tanto catarro? Os caras eram enxutos! Olhando para eles, antes ou depois da cerimônia, não se via espaço em seu físico que comportasse tanto catarro!
Essa constatação me fez achar o nó da questão: o tabaco tem de fato valor curativo. Não foi à toa que ele tenha se tornado a mercadoria, oriunda das Américas, mais famosa na Europa do século XVI e XVII! Chegava a ter peso de ouro! Nas Américas era geralmente usado durante os rituais indígenas, inclusive, nos de cura. E o europeu ficou boquiaberto com os resultados observados. Constatando que em todos esses rituais o tabaco estava presente, tomaram-no como sendo o causador da cura. E, na Europa, ele chegou a ser receitado para a solução de todas as doenças. Virou uma verdadeira panacéia![i]
Só podia ter sido assim. A racionalidade mecânica estava em plena ascensão na Europa e, consequentemente, a dimensão de energia da matéria era cada vez menos considerada. Ficava muito difícil para o europeu entender aqueles rituais indígenas, geralmente atuando na dimensão de energia da matéria. A questão é que eram visíveis e inquestionáveis os resultados. A causa devia ser, pois, aquele tal de produto exótico, que chamavam de petum e que viria a ser chamado por eles de tabaco. Afinal, era a única coisa visível e palpável! E servia para enfrentar qualquer mal! Daí a se tornar a panacéia da época foi apenas questão de tempo.
A partir do episódio da roda de caboclos, minha postura diante do tabagismo mudou completamente. Ainda estava reticente sobre reassumir meu hábito de fumante. Com as reflexões que esse episódio ensejou, recuperei-o com convicção. Afinal, se o fumo tem alguma função na nossa relação com a dimensão da energia, eu queria entendê-la ao máximo.
Nessa época, década de 90, a campanha antibagista já estava bem avançada aqui no Brasil. Claro que menos que nos EUA! Lá, em 86, já quase não encontrei espaço permitido para fumantes. Eles são os pais da campanha! Aliás, não só dessa! Mas, para essa eles tiveram uma razão muito séria, de acordo com o Dr. William T. Whitby, médico inglês(?), que escreveu o livro “Fumar é bueno para usted”, da Editorial Guijalbo. Segundo ele, o cigarro foi o bode expiatório, criado pelos americanos, para explicar a grande incidência de câncer entre seus pesquisadores nucleares. Os regimes fechados não tinham esse problema: era só esconder os problemas. Mas os americanos, por mais que tentassem, não conseguiam esconder tudo o que se passava em seus laboratórios. Como explicar tantos casos de câncer? Ou se encontrava alguma explicação extra pesquisa nuclear ou ficariam atrás na corrida da guerra fria. E o cigarro caiu como uma luva! E dá-lhe propaganda maciça, com total patrocínio do governo!
Sem entrar no mérito dessa tese, que é realmente plausível, diria que a questão é mais profunda. Tudo indica que isso aconteceu, como afirma o dr. Wyitby. Mas a conseqüente campanha não teria tido sucesso se na nossa visão de mundo ainda considerássemos a dimensão da energia material humana que a sabedoria popular sempre cultivou. Sem essa dimensão, qualquer discussão se torna em um tiroteio entre cegos. E o único dado concreto termina por serem as estatísticas que podem ser manipuladas ao bel prazer de quem as contrata. Para mim, a verdadeira explicação é outra.
Até o início do séc. passado, toda casa chique tinha escarradeira que, geralmente, ocupava algum lugar nobre, tal como a sala de visitas. Esse costume expressava o conhecimento, até então reinante, de que o catarro era prejudicial à saúde. E se assim, devia ser expelido.
Nesse mesmo início de século, porém, se alastra pelo mundo a fora a peste da tuberculose. Logo que se constata que o catarro era o vetor de sua transmissão, o costume das escarradeiras é sistematicamente combatido. O catarro passa a ser um interdito social. Ninguém mais cospe publicamente.
Esse novo hábito de não se cuspir socialmente vai, pouco a pouco, sendo internalizado pelos indivíduos como saudável. E é muito comum hoje se encontrarem pessoas, já idosas, afirmando que nunca tiveram catarro. Já observei pessoas como essas engolindo “alguma coisa”, enquanto faziam tal afirmação. Pior ainda, alguém que conheci, e se dizia assim, quando entrou em coma, teve uma máquina de sucção ligada a seu corpo que, durante dias, expelia uma quantidade de catarro para o qual parecia não haver espaço em seu corpo moribundo!
E o que tem isso a ver com o tabaco? É esse, exatamente, o ponto X da questão.
A inalação do fumo acelera o processo de metabolismo da energia materia humana mortal/l negativa. Seu primeiro estado é gasoso. Normalmente essa energia em estado gasoso vai se transformar em líquido no segundo momento, e em sólido, num terceiro. Em contato com a fumaça, essa transformação se agiliza. E aparece mais rapidamente o catarro, cuja consistência fica entre o líquido e o sólido. Basta armazena-lo por alguns dias em algum recipiente e vamos verificar a sua semelhança com o plástico derretido!
Naturalmente, o corpo tende a expeli-lo. Exemplo disso é o caso da criança que já superou a fase anal. Até então, o catarro saia entre as suas fezes. No momento, porém, em que já é organicamente capaz de cuspir, ele pára de sair pelas fezes. Se cuspiu, bem. Se não, azar! Dá-lhe tudo quanto é ite das doenças respiratórias, tão comuns hoje entre as crianças! E da adolescência em diante, que venham as estrias e as celulites! E ao final da vida, as osteoporoses e demais doenças que já fazem parte, infelizmente do perfil da velhice atual!
Por tudo isso, a campanha não devia ser contra o cigarro. E sim, contra a gula, a inveja, a ira ou ódio, o orgulho, etc! É por aí que produzimos/reproduzimos essa tal de energia material humana mortal/negativa, matéria prima de todos os nossos males, individuais e coletivos. [ii]
Tabagismo | |
História | |
O consumo de tabaco, hoje difundido em todo o mundo, até o século XVI era restrito aos indígenas das Américas que o utilizavam desde o ano 1000 a.C. de diversas formas, principalmente com finalidades terapêuticas. Segundo Sir Francis Drake, o navegador inglês que esteve visitando a América por algumas vezes, as tribos usavam as folhas sobre feridas ou para curar dor de dente, uma infusão como colírio, a inalação da fumaça para provocar vômitos e o pó para |
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Jean Nicot |
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descongestionar o nariz. As tribos também usavam o petum, nome indígena do tabaco, em rituais para evocarem os espíritos ou para celebrarem a paz.
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Foi Jean Nicot embaixador da França em Portugal (daí o nome científico do tabaco “nicotiana tabacum” e da substancia “nicotina”) o responsável pela introdução do tabaco na França em 1559. Outros afirmam que as folhas chegaram à Europa pelas mãos do capelão André Thevet que esteve em expedição pelo Brasil entre 1555 e 1567 tentando por aqui se estabelecer,quando acabaram expulsos de nossas terras. |
André Thevet |
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Independente do nome do responsável pela ida do tabaco para o velho mundo, o fato é que, quando por lá chegou, não demorou muito para virar uma verdadeira mania.Os europeus passaram a utilizar o tabaco em xaropes, extratos, sucos, inalações, fumigações, pomadas, emplastros, com a finalidade de curar úlceras, ferimentos, enxaquecas, reumatismo, hérnia, gota, sarna, doenças venéreas e, acreditem, asma e bronquite crônica.
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Em pouco tempo o uso do tabaco foi disseminado por todo o mundo. Clubes foram fundados, associações criadas e populações inteiras adotaram o novo hábito e a moda em muitos lugares tomou ares de requinte e fidalguia.
Mas nem todos se renderam aos “encantos” do cigarro. Luis XIV, da França, e Jaime I, da Inglaterra, por exemplo, já compreendiam os malefícios do fumo e proibiram os seu consumo em suas cortes. No princípio era fumado em cachimbos, quase tão rústicos quanto os dos índios. Mais tarde estes cachimbos tornaram-se verdadeiras jóias, obras de arte incrustadas de pedras preciosas. Outras técnicas se desenvolveram e mais tarde foram criados os charutos e depois os cigarros. Também o pó de tabaco, conhecido como rapé, passou a ser inalado “eliminando os humores supérfluos, revigorando o cérebro e clareando a mente” a partir do espirro que provocava, como se acreditava na época. Com o passar do tempo a utilização do tabaco na forma de cigarros tornou-se comum e todos os níveis sociais. A indústria do tabaco se desenvolveu enormemente em todo o mundo, tornando-se uma importante atividade econômica, tanto no plantio da folha como na produção dos cigarros. No mundo moderno os cigarros incrementaram também uma outra indústria: a da propaganda. Desde os primeiros filmes de Hollywood (aliás, um nome que se tornou marca de cigarros) os heróis e os bandidos apareciam nas telas fumando, cada um à sua própria maneira. E não só eles: lá também estavam as musas do cinema, com suas longas e sedutoras piteiras, entre as nuvens de fumaça de cigarro. Artes plásticas e cênicas, profissões, hobbys e, por incrível que pareça, até esportes, passaram a ter suas imagens associadas ao cigarro. O fumante de tal marca podia ser associado a uma determinada atividade, sempre marcada pelo sucesso, vigor físico, charme ou qualquer outro ideal humano. Somente a partir dos anos 60 surgiram os primeiros relatórios médicos que associavam o cigarro ao adoecimento dos fumantes e, a seguir, ao dos não-fumantes em convívio com fumantes (fumantes passivos). Finalmente a verdade sobre o cigarro vinha à tona e fumar passou a ser encarado, a partir de então, como uma dependência à nicotina, responsável pela morte de milhões de pessoas em todo o mundo, vítimas de câncer ou de doenças coronarianas, pulmonares e cerebrovasculares. Além do insubstituível prejuízo da perda das vidas também os governos passaram a contabilizar os imensos prejuízos com os milhões de dólares gastos em saúde com estas pessoas. De uma limitada utilização em cerimônias e rituais religiosos o tabaco transformou-se ao longo de sua história no maior agente causador de doenças e mortes prematuras da atualidade, tornando o seu uso um grande problema de saúde pública cabendo a cada fumante, ex-fumante e não-fumante tomar o seu papel nesta história e agir com o objetivo de transformá-la, definitivamente. |
[ii] Chamando de novo a multidão, dizia-lhes: Ouvi-me, todos, e entendei: Não há nada fora do homem que, entrando nele, possa manchá-lo; o que sai do homem, isso é o que mancha o homem. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça. Quando se retirou da multidão e entrou em casa, perguntaram-lhe os discípulos acerca da parábola. Ele lhes respondeu: Tão faltos estais de senso? Não compreendeis – acrescentou, declarando puros todos os alimentos – que tudo o que de fora entra no homem não pode manchá-lo,
Porque não lhe entra no coração, porém no ventre, e vai para o esgoto? Dizia pois: O que do homem sai, isso é o que mancha o homem, porque de dentro, do coração do homem, procedem os pensamentos maus, as fornicações, os furtos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, a fraude, a devassidão, a inveja, a blasfêmia, a altivez, a insensatez. Todas estas maldades procedem do interior e mancham o homem.
Marcos 7,14-23