1. Objetivo
Criar um grupo multidisciplinar para formular uma nova metodologia para recuperação de viciados.
2. Justificativa
Apesar da boa vontade e dos esforços empreendidos no processo de recuperação dos viciados e levando-se em conta a taxa de êxito obtida, não podemos deixar de constatar o grau significante de fracasso das atuais metodologias – seja pelo grande número de reincidência, seja pela dificuldade de re-inserção do “tratado” ao seu meio, seja pela busca de substitutivos ao objeto do vício, mas, sobretudo, pela não recuperação da maioria dos viciados.
3. Histórico
Em geral, os pressupostos teóricos que sustentam os atuais tratamentos se baseiam em princípios da química e da psicologia, predominantemente sua vertente comportamental. A isso se alia um modelo de espiritualidade em geral descolada da materialidade da realidade humana, especificamente da dimensão da energia material, quando o centro de recuperação segue alguma orientação confessional.
Se tais pressupostos não têm gerado a eficácia necessária na terapia, é na prevenção que vamos encontrar a sua maior vulnerabilidade, pois o que se vê é uma tendência crescente de universalização desse fenômeno.
4. Proposta:
A questão básica, portanto, é de se criar uma metodologia de reaprendizagem que propicie o enfrentamento dos fatores determinantes da compulsão; o reconhecimento e consciência do próprio desejo; e a busca de sua vivência numa relação harmoniosa consigo, com o outro e com o meio.
O primeiro questionamento da ONG a esse enfoque diz respeito à própria conceituação da palavra vício. Normalmente se tem tomado a conseqüência pela causa.
Chocolate não é vício. Álcool não é vício. Tabaco não é vício. Sexo não é vício. Assim como nenhum outro produto humano ou natural. Vício é a forma como o ser humano lida com esses elementos. E essa maneira é determinada pela relação que o indivíduo tem com o seu próprio desejo. Como esse é o problema básico de nossa civilização, deve ser também ele a base de nossa reflexão.
O próprio Freud já afirmava que nossa civilização se sustenta na repressão ao desejo. Por sua vez, o processo de repressão ao desejo vai levando o indivíduo a agir por compulsão. Conforme o grau dessa repressão, o indivíduo passa a agir e reagir apenas por compulsão. E é essa a compulsão a matéria-prima dos vícios: Inveja, Gula, Cobiça, Orgulho, Preguiça e Ódio.
São portanto esses vícios que devem ser enfrentados e não os produtos humanos ou naturais de que se alimentam.
Entretanto, cada vez mais tem se tornado normal, em nossa cultura, o cultivo de algum ou alguns desses vícios. Até um determinado grau esse cultivo permanece na linha da normalidade. “Um pouco de vaidade não faz mal a ninguém.” / “Lá em casa todo mundo é bom de garfo”. “Sem ambição ninguém vai para frente”. / “ Eu até que tenho inveja, mas é inveja boa.” / “Eu odeio fulano!” Essa normalidade só passa a ser considerada uma questão quando o grau de cultivo do vício interfere no desempenho do viciado, prejudicando a sua produtividade e/ou sua sociabilidade. Ou por outra, quando o viciado passa a provocar algum prejuízo ao seu meio. Aí ele passa a ser visto como um problema que deve ser resolvido.
Outra contradição que reforça a anterior e que tem impedido um eficaz enfrentamento dos chamados vícios (ou pecados capitais) é a falsa associação que tem sido feita entre eles e o conceito de prazer. É comum hoje se associar a idéia de prazer à noção de pecado. Mesmo quando se tem em mente a verdadeira definição de pecado: agressão à natureza humana determinada pela compulsão. Na realidade, nada que é feito por compulsão gera prazer. É que se tem confundido a noção de prazer com a noção de alívio.
Alívio é uma descarga de energia negativa que propicia um momentâneo “equilíbirio” ao sistema energético dando a impressão (falsa) de prazer. O prazer é algo bem superior e profundo: é o processo de fruição da energia positiva fluindo no nosso sistema corpóreo. E em assim sendo, a sua dimensão é de totalidade e de permanência.
Quem age ou reage por compulsão é porque não aprendeu e, portanto, não é capaz de fazê-lo motivado pelo real desejo, que é a verdadeira fonte de prazer. Ou por outra, quem é capaz de fruir o prazer não tem normalmente necessidade de agir por alívio.
Essa busca passa necessariamente pela aceitação e compreensão da dimensão da energia material humana, seja para aprender a se desfazer das cargas negativas (compulsão), seja para aprender a ampliar as cargas positivas (desejo).