“MANIFESTO DA EDUCAÇÃO”
DO NOVO MUNDO
PARA UM MUNDO NOVO
Quero uma educação que transmita e desenvolva conhecimentos para:
não ter que andar de sapato
e pisar no chão com firmeza e desenvoltura;
não ter que escovar os dentes
e ter bom hálito e dentes bons;
não ter que tomar banho
e me sentir limpo e cheiroso;
não ter que usar roupa
e me sentir aquecido e à vontade;
não ter que comer isso ou aquilo
e me sentir saudável;
não ter que ser vacinado
e estar imunizado contra qualquer epidemia;
não ter que usar remédio
e me sentir sadio;
não ter que depender de médico
e saber lidar com o meu corpo;
não ter que usar perfume ou cosméticos
e sentir minha pele gostosa;
não ter que fazer ginástica
e me sentir forte e ágil;
não ter que sacrificar meu corpo
e ter pureza d`alma;
não ter que me sentir fazendo esforço
e gozar em toda relação;
não ter que me anestesiar os sentidos
e saber enfrentar as dores que me forem impingidas;
não ter que, pelo medo, cultuar a morte
e viver intensamente a vida;
não ter que fazer seja lá o que for
e me sentir criativo em tudo que faça;
não ter que viver em função da quantidade
e encontrá-la na dimensão da qualidade;
não ter que me sentir senhor de pessoas ou coisas
e ser senhor de mim mesmo;
não ter que competir
e buscar a perfeição;
não acreditar que as Américas foram descobertas
e saber que foram invadidas como outros fatos históricos.
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Não existe bom hábito: todo comportamento impensado (não-recriado) é desmerecedor do ser humano.
O único produto marcadamente humano é o sentimento; o resto é subproduto e/ou meio.
Até a “descoberta” do micróbio, o homem tentava cultuar o macróbio.
Quem cultiva qualquer medo é impotente para o amor.
Enquanto parte imprescindível no processo de produção do amor, a potência feminina é tão necessária quanto a masculina.
A base material do sentimento humano é a vivência do desejo: o desejo realizado propicia o amor; o desejo frustrado (impotência) produz a inveja que se materializa no ódio.
O amor (desejo) e a inveja (impotência ante o desejo) produzem descargas energéticas com sinais contrários: um constrói e a outra destrói.
Tão ou mais importante que a pólvora no processo de colonização (exploração x denominação), é e foi a disseminação de doenças.
APÓS 500 ANOS: POR UMA EDUCAÇÃO NÃO-COLONIAL!
Esse texto foi inserido como o XXXIIº capítulo do livro “Racionalidade da Sabedoria Popular: energia material humana e sexualidade.” de MADUREIRA, G. Fábio.
HÁBITOS: MATERIALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
Conscientes de que toda nossa formação e toda nossa organização sócio-cultural se pautam pelo modelo da lógica formal, que sustenta e reproduz a relação fêmea impotente x macho mecanicamente potente, resta-nos saber que condicionantes internalizamos para reproduzir esse modelo a fim de que possamos superá-lo.
Inicialmente diria que o ideal seria que pudéssemos apagar, tal como se faz na computação, todos os nossos programas e aplicativos, ficando apenas com o programa operacional. Isso porque todas as informações que temos, tanto em nível do consciente quanto do subconsciente, alimentam essas condicionantes. São essas informações (conhecimentos) que sustentam e conformam os nossos próprios hábitos. Portanto, não se trata de mudança de comportamento. Trata-se, antes, de mudança de hábitos, pois são eles que consubstanciam os valores produzidos e reproduzidos por esse modelo, dando sustentação aos nossos comportamentos.
MANIFESTO DA EDUCAÇÃO DA LÓGICA DO CAPITAL
Vivemos hoje uma educação que transmite conhecimentos aos indivíduos para:
Ter que usar sapato como forma de proteção
para não sentir o chão;
Ter que escovar os dentes sistematicamente
para conviver com o medo da cárie e do mau hálito;
Ter que tomar banho, como obrigação,
para se sentir limpo consigo e com o outro;
Ter que usar roupa como proteção em relação ao meio
para sentir a sensação de estar à vontade;
Ter que se alimentar de acordo com os sugeridos valores nutritivos
para acreditar estar cuidando bem de sua saúde;
Ter que tomar vacina
para se sentir imune às epidemias;
Ter que fazer uso de medicamentos
para poder conviver com as doenças;
Ter que depender do médico
para saber lidar com o corpo;
Ter que usar perfumes e cosméticos
para sentir a pele gostosa;
Ter que fazer ginástica
para se sentir forte e saudável;
Ter que fazer sacrifícios
para conseguir a pureza d’alma;
Ter que fazer esforço
para poder gozar nas relações;
Ter que fazer uso de anestésicos
para não sentir as dores;
Ter que cultivar o medo da morte
para acreditar estar vivendo intensamente a vida;
Ter que fazer seja lá o que for
obedecendo os padrões esperados de criatividade;
Ter que viver em função da quantidade
para acreditar estar atingindo a dimensão da qualidade;
Ter que viver ocupado
para se sentir como alguém produtivo;
Ter que se sentir senhor de pessoas ou coisas
para não ser senhor de si mesmo;
Ter que viver competindo
para sentir a sensação de busca da perfeição;
Ter que consumir de acordo com a moda
para se sentir socialmente aceito.
Ao reproduzirmos esses hábitos sem espírito crítico, estamos reforçando e ampliando a lógica do capital e o modelo da racionalidade mecânica, não só em nós mesmos como na sociedade como um todo.
Por outro lado, para analisá-los com espírito crítico, faz-se mister que tenhamos acesso a um outro modelo de conhecimento que seja construído a partir de sua antítese.
No próximo capítulo iniciaremos uma reflexão que pretende dar cabo dessa tarefa, explicitando as bases de um outro modelo de conhecimento, o da racionalidade mágica.
Esse texto foi inserido como o XVIIIº capítulo do livro “Racionalidade da Sabedoria Popular: energia material humana e sexualidade.” de MADUREIRA, G. Fábio.