G.Fábio Madureira
Cristo começa sua vida
fazendo da água vinho
e na sua despedida,
vinho em sangue divino.
Hoje tem até cristão
que o álcool interdita,
como se a proibição
fosse por Cristo bendita.
O que importa não é o que entra
mas o que da boca sai.
E é aí que Cristo centra
a mensagem de seu Pai.
As coisas não têm maldade,
elas são pro nosso uso,
cabe-nos buscar verdade
com ciência e sem abuso.
Como o altar está perto
do púlpito e do palco,
de uma coisa estou certo:
o mal não está no álcool
É apenas um remédio,
de vários o mais antigo,
pra enfrentar o nosso tédio
e o mal do falso amigo.
Se usado em dose certa,
da má água nos enxuga:
o que era frouxo já aperta,
das heranças nos expurga.
Ele é droga eficaz
numa visão energética
mas na mecânica é que faz
deixar a vida patética
Não é problema da bebida,
a questão é a compulsão
que tira o sabor da vida
e alimenta a aflição.
Dizem que o fígado ataca.
Acho que ele o defende.
Com ele mais se descarta
a má-água que o ofende.
É uma questão de ciência:
a dose e a hora certa.
O contrário é demência:
só doença acarreta.
Além da dose e momento
tem-se o jeito que degusta:
com esse se fica atento
separando-se o açúcar.
Se se o joga na goela
vira veneno na hora:
é galinha sem moela
e nossa boca de fora.
Como diz o popular:
“me dá daquela branquinha
para as mágoas afogar
e eu poder ficar na minha.”
A branquinha espanta o frio
e o calor arrefece:
da energia o equilíbrio
o álcool restabelece.
Nisso tem sabedoria:
a de se sentir liberto
da má água que é fria
queimando tudo que é certo.
Com o álcool ou se evapora
ou com a boa se mistura
e podemos por pra fora
nossa mágoa que tortura.