Por uma teologia da Sabedoria Popular
A evolução humana é determinada pela superação do cio biológico que se caracteriza pela fusão genital, mas é periódico, (já que o desejo da fêmea se expressa por ciclos e desaparece na gravidez), na busca do cio psicobiofísico, que também se caracteriza pela fusão genital, podendo ser permanente, pois é determinado pela psiqué dos parceiros.
Esse processo se inicia com o chamado pecado original. Daí ser ele o X da questão humana, porque a partir dele o ser humano se afasta cada vez mais do modelo sexual de fusão genital, criando e vivenciando cada vez mais o modelo sexual de fissão genital.
Nessa busca, o ser humano se debate entre duas lógicas: uma de respeito e outra de agressão à sua própria natureza. Respeitando-a (fusão genital), ele produz/reproduz energia material humana vital/positiva (EMH+). Agredindo-a (fissão genital), passa a produzir/reproduzir a energia material humana mortal/negativa (EMH-).
Essa energia material humana mortal/negativa é a expressão concreta do que a teologia chama de mancha do pecado original. E é essa energia não debelada e, geralmente cultivada (nossa cultura), que é a matéria prima de todos os males e incapacitações do indivíduo, fazendo com que suas vontades geralmente não expressem seus desejos e, frequentemente, expressem exatamente o contrário.
Como o saber dominante evoluiu no sentido de negar a dimensão de energia na matéria, não temos aprendido a nos livrar das cargas de EMH-, passando a cultivá-las. Com isso, cada vez menos estamos aptos a sermos sujeitos/objetos de prazer. Passamos então a considerar prazer aquilo que na sabedoria popular é apenas alívio: uma descarga de energia material humana mortal/negativa que nos dá uma sensação de bem estar momentâneo e passageiro.
O pecado, mesmo agredindo a natureza, propicia essas descargas e por isso tem sido considerado pela maioria como fonte de prazer. Na realidade, ele não passa de fonte de alívio e de mais energia material humana mortal/negativa.
A lógica da Sabedoria Popular sempre considerou a dimensão de energia na sua visão de mundo. Por isso, sempre buscou uma relação de respeito com a natureza, criando meios de se desfazer da energia material humana mortal/negativa (alívio) para cultivar a energia material humana vital/positiva (prazer/virtude), fruindo o fluir dessa energia produzida pelas relações. Talvez, por isso, tenha sido historicamente a grande interlocutora do Cristianismo, a quem proporcionou, na prática, expansão e consolidação.
É, pois, chegada a hora da filosofia dessa Sabedoria ser também escutada pela Teologia, para iniciarmos uma nova etapa em nossa era cristã: a busca de uma nova inocência original.