39 – Lógica formal x lógica dialética

Superação do cio biológico: A história humana (individual e coletiva) é determinada pela superação do cio biológico da fêmea em busca do cio psicobiofísico.          A Sabedoria Popular sempre considerou a dimensão da Energia Material Humana na sua visão de mundo.          O afluxo sanguíneo é que gera a potência genital, seja no homem, seja na mulher.          As doenças do corpo e da mente são alimentadas pela energia material humana mortal/negativa.          Fusão genital é o modelo de relação sexual onde homem e mulher vivenciam sua potência genital.          O modelo de vida (individual ou coletiva) da auto-regulação pressupõe a consciência e o enfrentamento da realidade do pecado.          A noção de pecado originária da Sabedoria Popular é porque essa sempre considerou a dimensão da energia material humana na sua visão de mundo.          Para a Sabedoria Popular pecado é a transgressão de alguma lei que rege a natureza humana.          Potente é quem, mais do que em suas capacidades, tem consciência de seus limites e os respeita, buscando sua superação.          A vivência da virtude nos faz potente e a vivência do pecado nos deixa impotente para amar e gozar a vida.          Não existe pessoa desorganizada: uns se organizam para ter paz, outros para ter aflição.
38 – Ciência e Romantismo
02/04/2020
40 – Casamento de Freud com Marx
02/04/2020

O amor verdadeiro só é possível em uma mente forjada pela lógica dialética

LÓGICA FORMAL X LÓGICA DIALÉTICA

                                           G. Fábio Madureira 

 

A relação do indivíduo com o mundo – a natureza, os outros indivíduos e a sua própria natureza – se faz mediante uma estrutura racional gerada por essa mesma relação e que a ela determina. Em outras palavras, a relação do indivíduo com o mundo – interno e externo – é determinada por uma lógica gerada por essa mesma relação e que a ela mesma determina. Em resumo, até o presente momento o homem lida com duas estruturas lógicas: a formal e a dialética. Seria interessante que nos perguntássemos que bases materiais e históricas fazem prevalecer uma sobre a outra. Melhor seria ainda se pudéssemos distinguir em que bases materias cada uma nasce e se desenvolve.

Sem pretender esgotar sua definição, é importante que, num primeiro momento, distingamos uma da outra, situando-se e caracterizando-as.

Na história da humanidade, a lógica formal é temporalmente marcada, remontando a sua primeira sistematização teórica à Grécia antiga. Aí também já se tem o início de sistematização da lógica dialética, mas a continuidade de sua evolução só é retomada no final do século XIX e início do século XX. E ao lermos toda a prática teórica da humanidade vemos que a que tem prevalecido é a lógica formal.

Essa se caracteriza pela busca de modelos para explicação da realidade que, para ser conhecida, deve ser dissecada, dando-se uma definição para cada um de seus elementos que, classificados, passarão a ocupar aquela posição, exercendo um tal papel.

A outra, a lógica dialética, tem tudo isso mas, como o seu alvo é a relação entre os elementos e seu princípio básico é a mudança – qualquer alteração de ou no elemento muda a relação que por sua vez muda o elemento primitivo – as classificações, definições e modelos não passam de um meio para se aproximar do todo.

Em resumo, na lógica formal o que se busca é o produto por meios quantitativos, e a própria qualidade é mensurada quantitativamente. Já na dialética, o que importa é o como as coisas acontecem e o método é o qualitativo cujas medidas estão sempre mudando num acúmulo progressivo.

É interessante se observar que o conhecimento teórico acumulado e “intelectualmente” reconhecido está predominantemente assentado na estrutura da lógica formal, sendo historicamente o seu guardião a classe exploradora dos modos de produção conhecidos. E por ser da classe exploradora, esse conhecimento teria que ser necessariamente conservador. Entretanto, não se pode negar que o homem tem avançado historicamente. Esse paradoxo seria explicável pela tese de que a classe exploradora não gera conhecimento, apenas o expropria da explorada que, por querer mudanças, mantém uma relação dialética com a realidade? Mas se classe explorada se relaciona dialeticamente com a realidade, e a lógica dialética é superior à formal, ela não poderia estar sendo explorada por quem conhece menos a realidade.

Para mim, a resposta a essa questão está no fato de que o explorado, apesar de sua prática dialética, ainda não teve condições de atingir a racionalidade dialética porque desconhece as bases materiais que dão origem à sua lógica. Quando ele as conhecer e reconhecer, ele terá condições de destruir a estrutura da lógica formal e as suas bases materiais.

O que audaciosamente pretendo é investigar essas bases. A título de elucidação, eis algumas reflexões a respeito.

É ponto pacífico hoje o caráter evolutivo do ser humano. Que um dia foi apenas “animal” também é algo insofismável. Como e quando ele adquire um certo grau de racionalidade é algo um tanto desconhecido. E eu acho que as coisas estão por aí.

Enquanto “animal” ele se submetia totalmente às regras da natureza interior (instintos) e exterior. Se a natureza o alimentava, ele se produzia enquanto indivíduo e se reproduzia enquanto raça. Se não, ele não sobrevivia. E ao produzir a vida (reprodução da raça) ele também era um cego obediente da natureza – o macho só se exercitava no cio da fêmea.

Na medida em que ele foi encontrando saídas para driblar a natureza exterior (cavernas, vida nômade, pastor de rebanhos) ele se sente em condições de desafiar sua própria natureza “animal” e começa a se relacionar com a fêmea fora de seu cio. Pelo que parece, enquanto a relação macho/fêmea era determinada pelo cio desta, teríamos o matriarcado descrito por Engels. Na medida em que o macho, enquanto guardião dos rebanhos, quer deixar herança e para tanto tem que saber qual é sua cria, passamos a ter a monogamia. Acredito que deve ser por aí que a relação sexual deixa de ser pautada pelo cio feminino. (Adão e Eva).

E ao infringir essa lei da natureza ele nega sua condição “animal” e adquire a dimensão da racionalidade. Não é mais a natureza que lhe diz quando fazer a vida, ele a faz quando quer.

Ao negar sua condição “animal” e adquirir a dimensão da racionalidade, ele inicia o processo de construção da estrutura da lógica formal, pois o que importa não é mais a relação entre duas potências, mas sim o produto da relação que passa a existir: a vida. E para que essa vida seja construída, é necessário que se desconheça a potência de um dos elementos, o único materialmente possível de ser desconhecido naquele momento, a fêmea. Já não há mais uma relação de potência, e sim de poder, culminando no seu extremo lógico: para que um possa é preciso que o outro não possa.

Essa nova relação permite ao macho desenvolver uma estrutura de pensamento e de emoção próprios, cuja evolução é facilmente detectável na história da humanidade. E o seu contrario é também facilmente detectável no papel da mulher e dos explorados desta história. Essmesma relação é a primeira em grandeza no rol das condições materiais que explicam a estrutura da exploração. Afinal, é uma relação a dois em que apenas um tem o direito ao prazer e a iniciativa de poder gerar uma continuidade de sua vida. Não mais importa o como se faz, o importante é o que se faz. É aí que se inicia o processo de se preservar a natureza (a raça, instinto) agredindo-se a própria natureza (a sobrevivência – autodestruição da fêmea e do próprio macho).

Já a base material da lógica dialética é a relação entre potências. Quando duas potências se relacionam o que importa é o como, é a própria relação; o produto – vida – vem como conseqüência. A medida não é mais a quantidade e sim a qualidade que não é passível de comparação. Para que uma exista é necessário que a outra exista. E uma cresce em função da outra. E a medida não é individual e sim coletiva. E a relação não é de concorrência, e sim de solidariedade.

Esta era a relação do homem quanto apenas “animal”. Mas as condições materiais adversas destruíram essa base material e criaram o homem racional. Esse teve que agredir duplamente a natureza – a sua e a exterior – para desenvolver sua racionalidade criando as condições materiais mais favoráveis. Tudo indica que, com as condições que já criou, ele já tenha começado a negar dialeticamente o pensamento lógico e esteja caminhando para o pensamento dialético. E para isso é preciso que ele recupere, ao criar a vida, a relação entre potências, negando dialeticamente sua condição “animal” e atingindo sua verdadeira dimensão humana: animal racional. Não será mais o cio biologicamente subjugante da fêmea, mas o cio humanamente dominado pela fêmea, física e emocionalmente mensuráveis por ela e pelo parceiro macho cuja potência volta a se exercitar na relação e não apesar dela.

Na medida em que o homem for evoluindo na construção do pensamento dialético, ele estará destruindo a estrutura do pensamento lógico que dá suporte material a toda estrutura da exploração que, a nível do indivíduo é auto-destrutiva e destruidora a nível do coletivo.

1987