MANIFESTO DA EDUCAÇÃO DA LÓGICA DO TRABALHO
E DA
RACIONALIDADE MÁGICA
Este texto nasceu do incômodo de minha vivência como
coordenador do Seminário Legislativo “Educação – a hora da
chamada”, promovido pela Assembléia Legislativa de Minas
Gerais, em outubro de 1991.
Desafiado a formular um modelo de seminário mais
condizente com a realidade do legislativo, usei do setor da
educação como primeiro laboratório. Tendo trabalhado nessa área
já algum tempo, sentia-me mais seguro em começar por ela.
Por demandar o concurso de uma equipe de apoio numerosa
e oriunda de vários setores da burocracia, nem sempre tendo
condições de se oferecer um mínimo de treinamento, geralmente
atropelando os ritmos e procedimentos até então usuais, esse
primeiro seminário legislativo teve que enfrentar alguma
resistência interna da própria equipe, além da esperada resistência
e até boicote do restante da burocracia. Com apenas um esboço
de modelo na minha cabeça, não foi nada fácil desempenhar o
meu papel.
Além do mais, se ser oriundo da área me propiciava certa
segurança, essa mesma origem me deixava pouco à vontade. É
que já tinha bem claro para mim o papel do atual modelo de
educação na reprodução e ampliação da lógica do capital, e o
meu desejo de ver isso mudando.
Na qualidade de coordenador, cuja principal função era
encaminhar, o mais imparcialmente possível, toda a discussão
sobre as mais diversas opiniões, tive que fazer um constante
esforço para jamais emitir as minhas próprias. Ao mesmo tempo
que essa postura me proporcionava a credibilidade necessária
para conduzir com êxito todo o processo, criava em mim uma
grande angústia e um profundo sentimento de omissão.
Foi assim que decidi me expor sem prejuízo de minha
função. Pus no papel os objetivos que acreditava serem da
educação da lógica do trabalho, e que se contrapõem ao modelo
que aí está, e divulguei em paralelo o meu texto para os
participantes do seminário. Oficialmente, portanto, ele nunca
existiu. Como sei hoje que, oficialmente, o seu conteúdo
demandará algum tempo para ter sua existência incorporada.
Pelo valor que ele teve no meu processo de
amadurecimento da racionalidade mágica, optei por publicá-lo
aqui tal qual eu o havia divulgado no seminário legislativo, mesmo
sabendo estar sendo repetitivo em relação a algumas idéias, em
especial às contidas nos “pressupostos”.
“MANIFESTO DA EDUCAÇÃO” 10
do Novo mundo
para um mundo Novo
Quero uma educação que transmita e desenvolva conhecimentos
para:
não ter que andar de sapato
e pisar no chão com firmeza e desenvoltura;
não ter que escovar os dentes
e ter bom hálito e dentes bons;
não ter que tomar banho
e me sentir limpo e cheiroso;
não ter que usar roupa
e me sentir aquecido e à vontade;
não ter que comer isso ou aquilo
e me sentir saudável;
não ter que ser vacinado
e estar imunizado contra qualquer epidemia;
não ter que usar remédio
e me sentir sadio;
não ter que depender de médico
e saber lidar com meu cor po;
não ter que usar perfumes ou cosméticos
e sentir minha pele gostosa;
não ter que fazer ginástica
e me sentir forte e ágil;
não ter que sacrificar meu cor po
e ter pureza d’ alma;
não ter que me sentir fazendo esforço
e gozar em toda relação;
não ter que me anestesiar os sentidos
e saber enfrentar as dores que me forem impingidas;
não ter que, pelo medo, cultuar a morte
e viver intensamente a vida;
não ter que fazer seja lá o que for
e me sentir criativo em tudo que faça;
não ter que viver em função da quantidade
e encontrá-la na dimensão da qualidade;
não ter que me sentir senhor de pessoas ou coisas
e ser senhor de mim mesmo;
não ter que competir
e buscar a perfeição;
não acreditar que as Américas foram descobertas
e saber que foram invadidas como outros fatos históricos.
Pressupostos teóricos
Não existe bom hábito: todo comportamento impensado
(não recriado) é desmerecedor do ser humano.
O único produto marcadamente humano é o sentimento;
o resto é subproduto e/ou meio.
Até a «descoberta» do micróbio, o homem tentava cultuar
o macróbio.
Quem cultiva qualquer medo é impotente para o amor.
Enquanto parte imprescindível no processo de produção
do amor, a potência feminina é tão necessária quanto a masculina.
A base material do sentimento humano é a vivência do
desejo.
O desejo realizado propicia o amor; o desejo frustrado
(impotência) produz a inveja que se materializa no ódio.
O amor (potência ante o desejo) e a inveja (impotência
ante o desejo) produzem descargas energéticas com sinais
contrários: uma constrói e a outra destrói.
Tão ou mais importante que a pólvora no processo de
colonização(exploração x dominação) é e foi a disseminação de
doenças.
“APÓS 500 ANOS:
POR UMA EDUCAÇÃO NÃO-COLONIAL